Com Batalhão de Choque, governo quer ter regime de quartel nas prisões

 Choque encontrou com os presos até pistola calibre 380 dentro do Complexo de Pedrinhas
Choque encontrou com os presos até pistola calibre 380 dentro do Complexo de Pedrinhas

Crise no sistema prisional será enfrentada com revistas diárias nas celas; agentes criticam regras

Artur Rodrigues – ENVIADO ESPECIAL

SÃO LUÍS – O governo do Estado do Maranhão quer reverter a crise da segurança com mão de ferro no sistema prisional. O instrumento para isso é o Batalhão de Choque da Polícia Militar, que pretende implementar um regime de quartel dentro das cinco prisões que assumiu após o início da crise, com revistas nas celas até três vezes por dia. Agentes penitenciários afirmam que a ação só ocorre para compensar a falta de regras que dominou o sistema nos últimos anos.

“Se você manda o preso colocar a mão para cima, ele tem de colocar a mão para cima. Eles têm de aprender a respeitar regras de novo”, diz o comandante do batalhão, Raimundo Nonato de Sá. Segundo ele, há um oficial de alta patente em cada unidade. “Para qualquer situação, já tem ao menos 36 policiais do Choque de prontidão”, afirma. Também há viaturas do batalhão fazendo a ronda.

No dia 3, a Tropa de Choque encontrou com os presos até uma pistola calibre 380 dentro do Complexo de Pedrinhas, o epicentro da crise e de onde partem as ordens para ataques em São Luís. Também foram achados celulares e armas brancas.

A ação da PM nos presídios começou em 27 de dezembro, após um ano em que as mortes no Complexo de Pedrinhas chegaram a 60, mais do que o índice dos 12 meses em várias cidades do País. Mesmo após a polícia assumir, porém, já houve duas mortes. No dia 2, foi morto o detento Josivaldo Pinheiro Lindoso, de 35 anos, no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Ele foi encontrado estrangulado em uma cela da unidade. No mesmo dia e local, foi morto o preso Sildener Pinheiro Martins, de 19.

A polícia cobre um buraco causado pela falta de agentes penitenciários. Segundo o Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Maranhão, o vácuo não é só de homens, mas de autoridade. “Os monitores contratados no lugar dos agentes não podem andar armados ou com cassetete, os presos não respeitam”, diz Liana Mara Furtado Gomes, diretora de comunicação do sindicato.

Nos últimos dois anos, diz Liana, o governo do Estado vem criando mais regalias para os presos. Entre elas, segundo a diretora, está a falta de controle das visitas, o que já levou a um esquema pelo qual os presos cobravam dívidas de outros detentos por meio de sexo com suas companheiras. Após a PM assumir o local, a regra em relação a visitas mudou. Agora, só parentes de primeiro grau e mulheres dos presos podem visitá-los.

“A falta de respeito dos presos chegou a ponto de um deles filmar um agente com o telefone celular e gritar para ele: ‘Vou te pegar, viu’”, afirma Liana.

Entidades de direitos humanos enviaram um comunicado reclamando da falta de transparência durante a gestão da PM nos presídios. Segundo documento assinado pelas ONGs, Conectas, Justiça Global e Sociedade Maranhense as informações a respeito dos presos se tornaram mais escassas.