Sindicato da categoria enviou ofício à SAP cobrando medidas de segurança.
Há relato de integrantes de facções rivais nas unidades prisionais da região.
Fernando Evans
Do G1 Campinas e Região
A série de rebeliões no início do ano que resultou em 97 mortes de detentos no Amazonas e em Roraima deixou em alerta quem trabalha nas unidades prisionais da região de Campinas (SP). O Sindicato dos Agentes de Escolta e Vigilância Penitenciária de São Paulo (Sindespe) enviou nesta semana ofício à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) solicitando medidas de segurança para evitar que a crise prisional se instaure nos presídios paulistas.
A ruptura da parceria entre facções que comandam o tráfico de drogas no Rio de Janeiro e em São Paulo, com a consequente disputa pelo controle do comércio de entorpecentes no país, é apontada por especialistas como o estopim para os incidentes nos presídios da região Norte. Há o temor de enfrentamento entre essas organizações nos presídios paulistas.
De acordo com o presidente do sindicato, Antonio Pereira Ramos, a SAP realizou a remoção de líderes de diferentes facções nos presídios paulistas em outubro do ano passado, mas nenhuma na região de Campinas – o que é visto com preocupação. Segundo Ramos, há integrantes de um grupo criminoso do Rio de Janeiro no interior paulista, informação não confirmada pela SAP.
Realidade paulista
O juiz Bruno Paiva Garcia, coordenador do Departamento Estadual de Execuções Criminais em Campinas, não acredita que rebeliões como as ocorridas na região Norte possam acontecer no estado.
“O sistema prisional paulista sofre de graves problemas de superlotação e ausência de estrutura mínima prevista na lei de execução penal para atendimento dos presos, como, por exemplo, atendimento médico. No entanto, não creio que tenhamos uma rebelião nos moldes e na proporção daquela ocorrida no Amazonas e em Roraima. A Secretaria de Administração Penitenciária tem separado os presos de facções rivais em presídios distintos e não tivemos notícia de incidentes recentes”, opina o juiz.
Transferências
Em nota, a SAP informou que transferiu, desde outubro de 2016, aproximadamente 70 detentos de diversos presídios para evitar possíveis confrontos entre facções. Além disso, ressaltou que a medida determinada pelo secretário Lourival Gomes não teve relação com os incidentes ocorridos em prisões do Norte do país.
Questionada sobre a transferência de detentos na região de Campinas, a SAP informou que não divulga os locais das transferências por questões de segurança e destaca que o Núcleo de Inteligência está permanentemente atento, para antecipar qualquer tipo de movimento em prisões estaduais.
Medo
As notícias das rebeliões e mortes em série deixaram detentos e parentes em alerta. O marido de Tais da Silva, de 27 anos, cumpre pena na Penitenciária 3 de Hortolândia. A jovem relata que a informação da crise na região Norte chegou rapidamente ao companheiro, que informou que colegas de cela estão assustados. “A gente tem medo. Apesar de ele achar que aqui não ocorra nada parecido, ficou assustado”, conta.