Taubaté-SP
Nas lacunas deixadas pelo governo do Estado dentro dos presídios, entram as facções criminosas.
Utilizando aparelhos celulares, que teoricamente seriam proibidos nas unidades, os presidiários são responsáveis por ‘movimentar’ o crime do lado de fora dos presídios.
Grande parte das ordens de compra e distribuição de drogas e armas tem origem nos celulares das unidades.
“É daqui que as ordens para o crime partem. Todo mundo sabe disso, o Estado sabe disso mas as ações não mudam, e a gente vive aqui só esperando a bomba estourar”, disse um agente penitenciário.
De acordo com os agentes, na região apenas a P2 de Tremembé, que reúne presos famosos e não enfrenta problema de superlotação, tem uma situação mais tranquila.
“Em todos os outros presídios, o cara entra batendo carteira e sai PHD no crime, com sangue no olho e ódio do sistema, que o confinou em meio a um verdadeiro inferno e na terra”, disse o agente.
Horror. “Não tem jeito de pensar em coisa boa lá dentro. A comida é podre, o banho é gelado, tem goteira nas celas do CDP que deixam tudo úmido e o medo de agressão é constante. Nós, familiares, passamos a ser considerados criminosos e com tratamento igual”, disse uma jovem de 18 anos, de Taubaté, que tem o marido preso na cidade.
Ameaça. Inaugurada em abril do ano passado, a Feminina 2 de Tremembé vive em alerta constante, com medo de rebeliões. “Elas falam que aqui ainda é cadeia dos ‘polícia’, que vão batizar com uma rebelião em breve”, disse um agente.
A ameaça mais forte de rebelião ocorreu este mês, no Dia das Mães, e fez com que todas as folgas fossem canceladas e os funcionários trabalhassem em alerta máximo”, disse uma funcionária pública do governo do Estado.
Cadmo. A polícia da região esbarra constantemente no poder dos traficantes. Entre os casos recentes estão as operações Cadmo 1, 2 e 3, articuladas para desmantelar o tráfico de drogas deflagradas pela Polícia Civil de Taubaté, que constatou durante escutas telefônicas que as ordens para toda a movimentação do tráfico de drogas, partia de dentro dos presídios de Potim e da P1 de Tremembé, considerada reduto da facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Apesar dessa realidade, o chefe da Polícia Civil da região, João Barbosa Filho, diretor do Deinter 1, diz que acredita que as unidades prisionais não tenham muita influência no avanço da criminalidade da região, e que o Vale deveria ter mais presídios. “Tem que ter mais presídios, para a polícia poder prender mais”, disse.
PROBLEMAS
Presídios superlotados, sem opção de ressocialização com o Estado ausente.
REFLEXOS
O sistema é dominado pelo crime, que usa as celas como ‘escritórios’, de onde partem as ordens para crimes fora.
NÚMEROS
De acordo com dados da Funap, dos mais de 10 mil homens e mulheres presos na região, existem 1443 estudando e 6.186 presos trabalhando em fábricas e oficinas.
Estado diz que política é de tolerância zero
Taubaté
A SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) informou por meio de nota que mantém uma política de tolerância zero com relação à entrada de objetos ilícitos, sejam eles celulares ou entorpecentes, nas unidades prisionais.
A secretaria informou ainda que todas unidades prisionais estão equipadas com aparelhos de Raio-X de menor e maior porte, além de detectores de metal de alta sensibilidade, que ajudam a coibir a entrada de equipamentos e drogas, atreladas à vigilância constante dos seus agentes, treinados para evitar que esses objetos cheguem ao destinatários.
“Deve-se observar também que o combate à entrada de drogas e celulares nas prisões têm sido possível graças a eficiente atuação dos Agentes de Segurança Penitenciária, que não medem esforços para o êxito nas apreensões, demonstrando mais uma vez, que o crime faz suas tentativas, mais com a união e seriedade de todos, conseguimos combater estas ações”, informou em um trecho da nota.
Bloqueadores. Apesar das frequentes apreensões, a SAP disse que não possui previsão para instalação de bloqueadores de sinal, alegando que a tecnologia não acompanha o avanço da telefonia celular.
fonte: O Vale – Taubaté